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Mostrando postagens de setembro, 2015

Sem legendas

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Pouso o queixo na gaveta aberta. Aspiro um cheiro inconfundível de ontem: mistura de pós, cremes e couro cabeludo. Um cheiro familiar, minha mãe ou minha madrinha, odor de velhice. Recuo assustada, aquela é a minha gaveta.  Hoje sou mais antiga do que ontem, não tem escapatória. Os sonhos me ajudam a escrever e a recontar a história. Num deles estou em Paris, jovem com cabelos chanel. No outro, vasculho o sótão da velha casa da fazenda... Quando sonho me sinto mais viva na manhã. Convulsionada de ideias forçando passagem em carta psicografada.  Talvez tenha sido a lua negra. A praça que é de guerra transformada em praia numa noite de domingo. Não sei se faço sentido, mas o onírico não necessita de legendas. Só quero reter comigo o céu negro, o barulhinho do pandeiro ali perto e a textura suave dos meus filhos que estavam de volta à minha barriga, apertando minhas costelas num incômodo gravado na memória de toda mulher que carrega a vida dentro de si.  As pessoas

Independência no Brasil: um grito do Ipiranga e dezenas de batalhas

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Poucos brasileiros desconhecem a imagem portentosa de Dom Pedro I com a espada em riste vaticinando “Independência ou Morte!” reproduzida à exaustão nos livros didáticos de História. Trata-se de um recorte no gigantesco quadro do artista Pedro Américo que habita o Museu Paulista (antigo Museu do Ipiranga), em São Paulo, atualmente fechado para reformas e sem data para reabertura.  E assim como essa imagem é apenas um fragmento da obra de proporções intimidadoras, cercada de polémicas quanto à veracidade de suas informações*, também é distorcida e fragmentada a visão que o povo brasileiro construiu sobre o processo de Independência do Brasil ao longo dos anos.  A maioria dos brasileiros assimilou a narrativa de que nossa emancipação de Portugal se deu por meio de um parto natural tranquilo e rápido, quase indolor. Mas se aprofundarmos um pouco o olhar para os estudos mais verossímeis de importantes historiadores, começamos a pintar uma outra cena: a de uma independência

Arte ao alcance de um clique

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Museu Casa Portinari Viajar sem sair do lugar; conhecer o mundo em um clique. Não, ainda não inventaram o tele transporte, mas ainda bem que existe a internet. E com ela, um sem fim de opções fascinantes para desbravar os ilimitados campos do saber. Um deles vem ganhando opções cada vez mais instigantes de navegação: o Museu Virtual.  O museu virtual ainda é novo na museologia, mas muitos o consideram bem mais que um site de museu. Trata-se de um espaço virtual de mediação e de relação do patrimônio com os visitantes. Ou seja, para ser um museu virtual não basta que imagens das obras de arte, devidamente catalogadas, estejam disponíveis para o acesso via internet. É necessário prever atividades nas quais o público possa interagir com estas referências patrimoniais. Sua função é paralela e complementar à do museu físico, pois privilegia a universalização do conhecimento de acervos, antes acessíveis somente em caráter presencial.  Os museus virtuais favorecem o contato

Bichinha de Sustança

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Um bocadinho da vida e obra de uma cearense cabra da peste! “Na verdade, eu não gosto de escrever e se eu morrer agora, não vão encontrar nada inédito na minha casa”, dizia Raquel de Queiroz. Mas para quem “não gostava de escrever”, a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL) marcou gerações com obras fundamentais para a literatura nacional como “O Quinze”, “As Três Marias”, “Dôra, Doralina” e “Memorial de Maria Moura”.  Raquel de Queiroz nasceu em Fortaleza (CE) no dia 17 de novembro de 1910 em uma família de intelectuais. O pai era juiz de Direito e a mãe era parente do renomado escritor José de Alencar. Raquel tinha mais três irmãos e uma irmã e passou a infância no interior do estado, na fazenda “Não me deixes”, em Quixadá.  Em 1915, uma seca devastadora atinge o sertão e a família se muda para o Rio de Janeiro. Na adolescência, Raquel retorna para a sua cidade do coração e se forma professora ainda adolescente. Nessa époc