Postagens

Mostrando postagens de junho, 2015

Existência felina

Imagem
"É necessário se espantar, se indignar e se contagiar,  só assim é possível mudar a realidade".  (Nise da Silveira) De quais mesclas nasce o inconformismo? Por que umas pessoas se rasgam e outras não? Meio ambiente; DNA? Sei lá. Só sei que numa escala de doçura estou mais para Martin Luther King do que para Madre Teresa de Calcutá. Mais para Nina Simone - que mandou o Mississipi racista se foder - do que para Gandhi, que acreditava ser possível alcançar a paz pela não violência.  Não vou contemporizar, não vou ficar em cima do muro. Sou radical, serei obsessiva? Conversando com uma amiga de longa data, ela me contou que tinha medo de algumas pessoas que revelavam sua natureza hostil no Facebook. Bem, ao menos eu sempre fui assim apavorante. Nunca precisei me esconder no anonimato das redes sociais para dizer o que penso e agir de acordo com as minhas crenças mezzo-socialistas, mezzo-abolicionistas (da mediocridade), com uma queda pela insanidade gera

Religare

Imagem
Vou te contar um segredo: galopar é radical. Nunca voei de asa delta, nem viajei de motocicleta ou mesmo de balão. Também nunca escalei montanhas, se bem que tenha alçado o pico da Bandeira uma única vez, minha trilha mais íngreme. Porém, galopo.  Aliás, sempre andei a cavalo, criança criada na roça. Todavia essa percepção do perigo só se adquire com a idade e com o medo que vem acoplado indesejavelmente com os anos pesando sobre os ombros. Entretanto não quero me dar por vencida. Não resisto. Vejo um cavalo selado e me ponho a arder por dentro. Preciso da minha dose – nem que seja eventual – de estimulantes. Entendo o prazer indescritível dos motociclistas e esportistas de aventura. A sensação de liberdade que é alcançada somente quando a gente não pensa em consequências.  Vou. As patas do cavalo em sintonia com o meu coração vão ganhando velocidade. Em segundos, estamos bailando num galope libertário. Meus cabelos acompanham a crina de Segredo, o garanhão de Mari

Salve a criação!

Imagem
Gavião Sovi Primeiro eu escrevi plúmbia e aí o corretor me disse que não existia. Então, chequei no Google, que diz que existe, mas sem acento. Parece ser uma insígnia lá na Itália. O oráculo também me fez descobrir que plumbea é o nome científico de um gavião. Percebam como é útil um erro de Português de vez em quando. Mas se existe plúmbeo, por que não posso escrever semana plúmbea? Foi então que percebi que estava digitando errado a minha ideia de cinza (sem conotação sexual, por favor, muito pelo contrário).  Quão entediantes e desesperançosos foram esses dias... Com todos que se conversa é um pigarro, um olhar cabisbaixo, uma história de falta de dinheiro e de perspectiva. Na quarta, paralisei. Não conseguia nem colocar a mão no teclado diante do vazio. Foi pane total na aeronave (olha, só de estar escrevendo aeronave junto da palavra pane dá para se ter ideia do meu desalento). Toc-toc-toc, quem bate? É o frio!! Não, não, é a recessão!! Uns perdem o emprego; o

Pique - Pega

Imagem
Cruzando da Sul para o Norte, um olho no asfalto, outro nas nuvens que tentam me alcançar.  Grão de liberdade.

Ideias vorazes

Imagem
Folheando as revistinhas de produtos de beleza cada dia mais inúmeras, deparo-me com os nomes surreais dos batons a cada ano mais inúmeros também. Imagino o rebuliço no departamento de marketing das indústrias de esmalte e de brilhos para os lábios nos dias de hoje. Santa Criatividade, Batman!  De Verde Ninja à Capadócia; de Ha Ha Ha ao Me Belisca; de Nugget (Cor de burro quando foge, será?) a Marshmellow de Alfazema, passando por Azulcrination e Inveja Boa, rola de tudo no universo fashion para atrair a mulherada.  O mais engraçado, entretanto, é ver que existe explicação “científica” por trás desses batismos. Os profissionais que discutem e batem o martelo sobre as novas tendências juram que os nomes querem, sim, dizer alguma coisa além da viagem na maionese que de fato são. Como sou publicitária, conheço muito bem esse joguinho de inventar profundidade para algo que está na superfície. Eles não me enganam, mas gosto muito de ler a fala empolada dos marqueteiros. É

Lindeza

Imagem
O vendedor de milho na porta do colégio é anacrônico e, por isso, poético. Passo por ele na ida e vejo o vapor saboroso saindo da panela. O filho do vendedor de milho cozido está ao lado dele, sentadinho comendo biscoito. O vendedor de milho é digno, usa jaleco para transparecer profissionalismo e limpeza. É também simpático e ágil. “Quer mais mole ou mais amarelinho? Manteiga? Sal?” E sorri para a clientela que o cerca.  Na volta, torno a passar pelo carrinho do vendedor de milho. O cheiro atravessa a pista, que vontade que dá! Mas cadê o vendedor? Está agachado, apertando os filhos em um abraço de puro amor. O menino geme brincando: “ai,ai”, porém o pai não lhe solta. Estão os dois agarradinhos na noite que principia.  Minha garganta aperta, quase desfaleço diante do absoluto. Cena sépia de lindeza. 

Borboletas no estômago

Imagem
Melhor do que o Dia dos Namorados seria celebrar o Dia dos Enamorados. E qual é a diferença? Você vai perguntar. Toda, respondo. O namorado é palpável, concreto. É um produto pronto e acabado, digamos assim. O enamorar-se é uma ação, um fazer, um processo; algo sutil e abstrato.  Melhor, portanto, ser enamorado/a do que ter namorado/a. Porque ao enamorar-se você pode até mesmo encontrar um namorado/a que valha a pena e se transforme no seu grande amor. Mas ter apenas o namorado/a, sem estar enamorado/a, não vai lhe levar para muito longe da solidão.  Enamorar-se é uma atitude diária de romance com a vida. É se apaixonar pelas delicadezas que se apresentam na rotina de atribulações que cada um conhece muito bem. É ver graça patética no café derramado na roupa; na chave do carro desaparecida dentro de casa; no atraso corriqueiro que seu filho proporciona por levar anos tomando o Nescau da manhã.  Sei, é difícil amar tudo isso todo dia. Mas que tal se hipnotizar por

Meninas não entram...

Imagem
Meninos, meninos... Esse mundo aparte de nós, mulheres. Recebi hoje um artigo do Luiz Felipe Pondé chamado “Medos Masculinos e Mulheres Obsoletas”, enviado pelo antenado amigo Rodrigo. Um tiro de franqueza e sagacidade típico desse pensador pós-moderno. Gosto muito do Pondé, pois ele não perdoa nada, assim mais ou menos como eu. :)  Ainda nas rebarbas sobre o mundo hetero e o mundo gay, amar um igual deve ser mais fácil do que amar um diferente. Não é essa toda a luta secular das minorias? A aceitação da diferença? Pois é... Acolher, aceitar e engolir as diferenças é foda pra caralho! Casamento hetero é foda pra caralho, portanto.  Mas eu não quero escrever sobre as agruras dos matrimônios. Volto a correr atrás do meu rabo: o universo tão particular dos meninos. Ter somente homens em casa é estafante de muitas maneiras. Começo a acreditar numas pesquisas que andei lendo por aí que afirmam: mães de meninos vivem menos. Procede.  Conheço algumas mães só de meninos