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Mostrando postagens de setembro, 2013

As Mulheres com C

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Lendo um conto de Bukowski na noite de “chuvaciriço” de ontem, “A Mulher Mais Linda da Cidade”, me lembrei de algumas mulheres que passaram pela minha vida e deixaram seu rastro incandescente. Primeiro, recordei dona Aurora, a mulher matuta que vivia na fazenda de meus pais.  Cabelos gigantescos que chegavam ao cóccix, a velha senhora usava superlativos vindos de sua sabedoria indígena como chuvaciriço (que, em se tratando de neologismo puro, poderia ser grafado também como chuvassiriço ou chuvacirisso).  Mas, voltando ao fantástico conto de Bukowski que escreve, com o perdão da expressão chula, porém muito pertinente ao autor - pra caralho - a história de Cass me trouxe de volta uma guria que encontrei nos descaminhos profissionais da minha existência, sempre repletos de furadas. Fazendo um retrospecto frio, não sei mesmo como é que consegui sair de tantos chefes e lugares sinistros com ar nos pulmões...  Desculpe-me, estou me perdendo... Cass era tão parecida c

Climatério

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O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) afirma que o Brasil pode elevar em até 0,7º C a sua temperatura durante este século. É manchete nos jornais de hoje e eu respiro aliviada por não viver para sempre. Até o fim do século eu já virei pó, né? E se não tiver virado, com esse calor, com certeza já terei derretido. Realmente eu não gosto de calor. Cheguei a essa conclusão. Adoro sol, adoro pegar sol (dermatologicamente incorreta até a alma), amo praia, dias azuis, mas detesto suar em bicas. Não suporto a pele cozinhando debaixo da roupa. Preciso mudar de país, ó céus!! Ou, pelo menos, mudar de cidade... Brasília está mais para sertão de Tocantins do que para Serra da Mantiqueira (um grau comparativo de superioridade que só tende a crescer e me deixa muito aflita). A verdade é que o clima corrente de certas cidades tem efeito repelente pra mim. Entendo, como cidadã brasileira, que deveria conhecer a Floresta Amazônica e o Pantanal. Mamãe morre

Oásis

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O calor amolece os miolos. Sinto-me um daqueles relógios de Dalí, derretendo languidamente enquanto procuro a danada da verve literária.  Nesse sábado, catei amoras no pé. Minha pele, antes de pêssego, virou goiaba bichada. As doenças crônicas que vão aparecendo quando a gente acumula, além de milhas, décadas. Mas, voltando ao bucolismo das frutas que não nascem nas gôndolas do supermercado, foi refrescante buscar as delicadas amoras entre a ramagem. As mais roxinhas, tão delicadas... Muito cuidado! Tocou, caiu e se perdeu.  Enchi dois copos de plástico. Que contradição: a natureza preenchendo a esterilidade artificial daquele objeto branco. No horizonte, a plantação de couve verdejava os olhos. “Eles abastecem o Carrefour”. Tá vendo? Hortaliças também não crescem em multinacionais.  Meu filho caçula se perdeu naquele mundão árido da roça. De longe, observava sua meninice curiosa. Seu deleite em fazer parte da terra. Eu também era assim e de vez em quando retomo o

Ad Infinitum

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O milagre acontecera e eu perdi o exato momento. Saindo do shopping (o que já é um evento raro para alguém como eu), caía do céu o maná cristalino. Do asfalto em brasa, subia vapores específicos de meses sem chuva. Odor de betume salpicado de alegria.  Brasiliense, calango, candango é antes de tudo um forte. Entra ano e sai ano e não se acostuma com a aridez, fazendo festa que nem criança quando descem das nuvens as pequenas lágrimas das angustiantes previsões: Chove antes do Sete de Setembro? Final da semana? Hoje?  Acordei no meio da noite e não era sonho. O chororô não havia parado. Pingava enquanto as articulações ressequidas da minha casa estalavam ao receber a dádiva da lubrificação. Cada pé de cadeira, cada tampo de mesa gritava suas artroses e artrites.  Pensei em quantas centenas de galhos estariam se espreguiçando naquele momento. Secretamente se amando velados pela noite solitária. Fui mais além e imaginei cada animal vertebrado ou invertebrado sacudind

Suspiros

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“E aí, ela cisma de voltar...” A falta de inspiração, sempre ela, ameaça, ora velada, ora explícita. Terror do escritor profissional que tem prazo para entregar seu material para a editora. Chateação do escritor amador que se vê na obrigação de escrever porque, sei lá, é vício.  Afinal, ninguém está me pedindo ou cobrando nada. O eco do que eu escrevo no blog é ínfimo, mas me sinto responsável por aquilo que eu cativei, ou seja, meus poucos fiéis leitores e o compromisso comigo mesma de me desafiar a cada postagem. De viver o prazer disso.  Nessas últimas semanas, fui rodeada pelas perdas. Grandes amigas de longa data perderam avó, mãe e tia. A vida tão frágil e imprevista. De certa forma, essas perdas se conectam comigo porque conheci essas mulheres queridas que se foram. Antigamente, achava que só eu tinha o “o azar” de me despedir dos seres estimados antes da hora (A verdade é que não tem esse papo de momento certo para a morte. Quem ama quer sempre atrasar o reló

"E o teu futuro espelha essa grandeza..."

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Quem me acompanha no Facebook, ficou sabendo que eu iria escrever uma carta para a coordenadora pedagógica do colégio dos meus filhos, questionando a omissão da instituição no tocante ao Dia Sete de Setembro. A seguir, o texto na íntegra: Brasília, sete de setembro de 2013. Prezada Kênia, bom-dia! Sei que vocês não me veem diariamente na escola, pois meu horário de trabalho é incompatível com a entrada e saída dos meninos. Entretanto, acompanho atentamente o trabalho desenvolvido por toda a equipe do Leonardo Vinci e tenho muito apreço pela instituição, que nos parece equilibrar muito bem conteúdo e ações afirmativas em prol de uma educação integral da criança. Por isso, foi com muito espanto e desapontamento que constatei que uma das escolas mais tradicionais de Brasília "ignorou" a maior data nacional, o Sete de Setembro, entre seus alunos. Esperei que os meus dois filhos trouxessem bandeiras pintadas ou deveres de casa sobre a Independência

Os Cravos e a Rosa

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"Ele era para mim como uma fonte no deserto."  (Trecho do livro "O Pequeno Príncipe") Há muitos e muitos anos, numa revista distante, li um artigo com o sugestivo título: “Os opostos se atraem, mas depois se repelem”. Deve ter sido nessas folheadas de salão de beleza. Alguma Caras, Capricho, Contigo, Nova... O texto falava da importância, ao meu ver verdadeira, de se ter mais traços em comum com o seu companheiro(a) do que oposições de gostos e estilos de vida. Desse modo, a relação teria mais chance de ser duradoura.  Essa afirmação em forma de título me acompanha desde sempre, mas eu nunca desisto de fazer amizades com pessoas bem diferentes de mim. Gente tímida e delicada me atrai como aquela mosquinha da animação Vida de Inseto. Ela recebe a advertência da outra mosca: Não olhe para a luz, não olhe para a luz! Entretanto, retruca: MAS, EU NÃO RESISTO! E segue hipnotizada para a armadilha azul.  O jogo de seduzir um introvertido me dá muit

Panturrilhas e Guerrilhas

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“O imprevisto me fascina.” A afirmação é da Clarice Lispector, que não gostava de ser comparada com a Virgínia Wolf - com razão. Afinal, a primeira sempre esteve encantada com a vida. Ao contrário da segunda, depressiva. Podiam escrever em golfadas mentais herméticas, mas as posturas perante a existência dessas mulheres fantásticas divergiam significativamente. Por isso, tô com a Clarice e não abro.  Essa viagem para o Rio foi assim, um imprevisto. Que começou com a previsibilidade de todas as viagens: a compra das passagens aproveitando alguma promoção há meses. A data se aproximava e confesso que não tinha em alta conta essa ida corrida para a cidade maravilhosa. Rolou mesmo um contragosto na hora de arrumar a mala.  Voar sempre me aborrece. Ou melhor: apavora. Mas o marido tecnológico tinha um arsenal de equipamentos para me tirar do ar. (Hahaha, trocadilho saiu na teclagem e fica). Headfones milagrosos evaporaram os barulhos insuportáveis da aeronave. Em troca: mui