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Mostrando postagens de julho, 2013

Popularidade zero

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Enfado. Já estava grande e ontem veio a pá de cal: o texto de reflexão da aula de yoga (que anda me extenuando atualmente) afirmava: “As pessoas estão cansadas de palavras”. Era só o que faltava, viu? E agora, o que é que eu faço? Ainda mais quando concordo com elas: nem eu aguento mais meus textos egocêntricos. Reparem bem no emprego do pronome possessivo.  Hoje eu queria ser designer de produtos. Ou pintora. Ou melhor: escultura. A escultura é algo tão fisicamente complexo que consumiria toda a minha angústia. Mas angústia de quê? Do de sempre. Do dia após dia, das horas. Das rugas que insistem em se proliferar abaixo do meu pescoço. O que farei sem usar decote em V?  Um monte de celebridade dizendo que os 40 são o auge da mulher e eu tentando descobrir. Deve ser o tal ponto G da juventude... Não tô com essa bola toda não. E a cada mês, mais loura, pois mulher não envelhece: fica platinada. Acabou: me transformei na piada idiota.  Ah, ranhetice, sai do meu pé,

Em terra de cego...

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Sou igual ao Caetano Veloso: amo nomes. Quem lê minhas tolices já sabe disso, mas se você tá chegando por aqui hoje, fica dado o recado. “Adoro nomes, Nomes em ã/De coisas como rã e ímã,Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã/ Nomes de nomes/Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé e Maria da Fé”...  Gosto dos nomes bonitos e dos nomes feios. Meter o pau em nomes horrorosos é uma diversão. Sem remorso. Aqui no tribunal já me deparei com milhares de alcunhas absurdas disputando os mais diversos perrengues legais. Um dia, um casal entrou na Justiça contra não sei mais o quê. Entretanto, seus nomes eu não esqueço jamais: Aldegundes e Marigrácia.  Verdade, meus caros. Pensem na piada pronta. Melhor: pensem num mix de possibilidades para os filhos dessa dupla impagável, se ela tiver tido a elegante ideia de perpetuar o mau gosto: Marigundes, Aldegrácia... Não, voltemos mais ainda no tempo e imaginemos o convite de casamento deles: “Os pais X e Y orgulhosam

Doces ou Travessuras?

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Chamava-se Herculano. Por coincidência astral ou não, fora batizado com o mesmo segundo nome de meu pai. Não tenho memória de onde ou quando a vida dele esbarrou na da minha família, mais precisamente, na da minha mãe. Foi por ela que ele chegou até nós. Talvez uma paixão não concretizada por aqueles olhos verdes e sorriso imenso dela... Deveria ter feito o registro desses pormenores quando Maria ainda tinha lucidez para contar passados. Agora, foi-se. Restou as lembranças de um homem esguio e muito alto. Herculano era uma espécie de Jesus Cristo das folhinhas de igreja ou mercearia, misturado com Indiana Jones. Era, portanto, um cara bonito. Talvez o modelo de homem viril que busquei em todos os namorados, quase sempre altos e magros. Coroa que prendia seus cabelos dourados na altura dos ombros com uma faixa circundando a cabeça. Sabe o Crocodilo Dundee? Taí uma imagem precisa desta minha primeira figura paterna. A pela branca curtida de sol, uma faca embainhada na

Diamantes

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Minha Ouro Preto Ouro Preto estava imóvel e intocada. Devotadamente poética como eu a deixara há mais de uma década. Tive um pensamento egoísta: ela se resguardara para mim. Pudica.  Bom Jesus de Matosinhos - Congonhas/MG O dourado se derramando pelas montanhas. As igrejas sólidas e flutuantes. Naves sobrevoando meus devaneios. "A nave quando desceu, desceu no morro/Ficou da meia-noite ao meio-dia/Saiu, deixou uma gente tão igual e diferente/Falava e todo mundo entendia".* Marco da Estrada Real Em Ouro Preto, se você não está subindo, é porque está descendo. A pessoa carece de ter panturrilhas de aço e paciência de Jó para galgar suas ladeiras sinuosas. Aliás, todas as Gerais nos dão esse suor fruto da beleza do desvendar trilhas, cachoeiras, estradas de ferro, topos do mundo.  Igreja Nossa Senhora do Rosário/ Ouro Preto Acordei no quarto escuro, mas os rastros de sol no teto denunciavam o dia de inverno. Na fazenda da minha infância era qu

Propulsão

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Como estamos na semana do nascimento de  Kafka,  aí vai  mais uma de Praga Ufa que eu consegui terminar “O Cemitério de Praga” depois de três meses de leitura! Simplesmente adoro essa construção frasal do meu primogênito, que sempre coloca a interjeição no início da conversa, jamais em seu fim. Dá uma sensação de conquista maior do que a de alívio, que é a sua característica corriqueira.  Contudo, não tive êxito em repetir o espanto literário que foi ler “O Nome da Rosa” no auge da adolescência. Umberto Eco não conseguiu fazer outra obra-prima. Também, tem gente que nunca faz nenhuma... Sorte dele que se sagrou campeão e ainda ganhou rios de dinheiro com a adaptação do livro para o cinema. Filmaço com o querido Sean Connery.  Essa era a capa da edição de 1983, do meu livrinho amado “O Nome da Rosa”, para mim, tem sabor de amor de mãe. Ter nas mãos um livro daquela qualidade e espessura há quase 30 anos, era luxo. Sei que mamãe encontrou uma brecha no orçamento a

Fogo Brando

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Magníficos vitrais da igreja Nossa Senhora da Imaculada Conceição/RJ Bem-vindo, silêncio úmido das igrejas! Cave à meia luz... Vitrais incandescentes abraçam minha confortável solidão. A tradução da alma em intricados pormenores.  A nave-útero dissipa dilemas, ruídos, cansaço. A paz negocia comigo e aceito o acordo. Imperceptíveis, brotam de mim raízes que me fincam ao sólido banco de madeira. Deixo-me apegar para encontrar o desapego da comunhão com o diáfano. Sinto-me plena, reverberando calma de passos sussurrantes e contritos.  O odor da parafina se consumindo em fogo brando coloca um tempo infantil postado ao meu lado. Minha madrinha acende velas ao seu santo de devoção: São Judas Tadeu. Os castiçais todos tremeluzindo. Uma oração de joelhos. Só agora entendo esse terno afeto pelo Espírito Santo no altar. E o que escondia aquele cubo misterioso que parecia guardar tesouros de real grandeza? Chavezinha na batina do padre. Crepitam, crepitam meus olhos ávidos de