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Mostrando postagens de fevereiro, 2013

Tudo pode ser outra coisa

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Surpreendida pelo meu filho ontem. Surpreendida todos os dias, aliás. As crianças são o ineditismo e a surpresa encarnados. A cartola do mágico excepcional, que não oferece apenas coelhos e lenços coloridos, mas algo sempre extraordinário, nunca mirado. Acho que só Clarice Lispector consegue provocar tantos “boquiabertismos” quanto à infância. Taí o segredo dessa escritora singular: era adulta por fora, mas infantil no modo de questionar o mundo em que vivemos.  Na cozinha, lanchando, o primogênito pergunta: Mamãe, você acha a lei da vida boa ou ruim? A porta da geladeira permaneceu semiaberta. A reflexão fulminou-me. Queimei de cima abaixo. Sobre qual lei da vida ele me pedia uma opinião? Essa que me fez escolher a profissão equivocada? A que me deixou órfã de pai aos 11 meses de idade? A que deixou a sobrinha morrer afogada aos 13? A que levou minha mãe depois de três anos de dores atrozes? A que me deu uma artrose no cotovelo aos 40?  Por que a lei da vida para mim vei

Cliques da Chapada

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“Mistério sempre há de pintar por aí...”

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Não consigo sair dessa ressaca textual. Acabei presa no arrastão. A peixinha veio parar no aquário do Procurando Nemo... Tem peixe de tudo quanto é jeito aqui. Mas, ao contrário do Gil, ninguém é amargo e já tentou fugir para o mar aberto não. Todo mundo parece confortavelmente ambientado. Isso é bom. Quem sabe apazigua meu espírito de águas correntes, fresquinhas e revoltas. Alguns amigos me falaram que não existe melhor lugar para um peixe do que um aquário. Depende da espécie, né?  Mas hoje eu já amanheci ganhando parabéns atrasado do big boss. E o mais irônico: ganhei parabéns pelo texto de abertura que escrevi para a seção Tira-Dúvidas. Depois de seis meses levando cacetada por qualquer frase, senti-me redimida. Talvez seja o momento de voltar a acreditar em reescrever minha trajetória profissional, sempre marcada por desentendidos. Esse reconhecimento matinal simpático pode me tirar dessa armadilha. Preciso alimentar meu blog, preciso me alimentar de ideias, de sonhos

Tempo de despertar

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Tá, o Carnaval acabou. Chega, vamos lá. Engata a primeira, toma um café colombiano (nossa, é bom, viu?), acorda. Faça alguma coisa. A coisa certa, de preferência. Corra e olhe o céu! Repare no sol tingindo a grama de amarelo num enfoque bem Brasil: verde e ouro. Acredite que tudo vai ser diferente. Afinal, o ano começa e nessa semana você ainda celebra o seu aniversário!  A vida está me chamando, mas quem disse que eu escuto? O tempo passa e a juventude vai se embora em novas safras de fios brancos. A cada dia encontro mais gente com a metade da minha idade. Taí: envelhecer é colecionar o dobro de memórias, chateações e alegrias.  Continuo presa na âncora da falta de inspiração. Que pesada! Arrasto, puxo, mergulho e tento tirar os grilhões do meu tornozelo, pois eles maltratam o peixe tatuado. Não deixam a lulupisces nadar. Tenho participado de tantas cenas interessantes, porém não consigo expressá-las em palavras. Os mil e um vocábulos... Aqueles pelos quais tenho a

Raízes do meu samba

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Nas ruas de Olinda deixei meu coração Cinzas... Não gosto da cor cinza, nem de bege e outras tonalidades "neutras", só se for branco ou preto totais. Esse gostar fala muito sobre minha natureza passional. Neutralidade não é comigo. Deve ser por isso que eu gosto de Carnaval. Porque é explosivo, visceral e colorido. Reza a lenda que meu pai deixou mamãe na maternidade (nasci num sábado de Momo) e foi para a matinê brincar com os outros cinco filhos.  Mas, por incrível que pareça, nenhum dos meus irmãos tomou gosto pela coisa além de mim, que não convivi com o homem que se amarrava nas cantorias e danças populares. Eu credito esse amor ao Carnaval por causa da devoção que eu tenho pelo balé. Dançar é transcender absolutamente. Também tem dedo da minha madrinha nessa história. Capixaba criada no Rio, era torcedora incondicional da Império Serrano. Todos os anos da infância acompanhava os desfiles ao lado dela, pela TV tão sem graça daqueles tempos. Dindinha só s

Chuva de prata

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Quase sempre que vejo um Siena cinza, eu procuro por minha mãe. Lá estava ela, serelepe na direção. A conquista da autonomia que lhe foi tirada por tantos anos de casamento com um homem que não admitia tamanha emancipação: dirigir. No mês seguinte à morte de meu pai, mamãe já estava na autoescola. Aprendeu a guiar com 36 anos e nunca mais parou. O Siena prata de mamãe era a extensão da casa dela: espaçoso e desorganizado. Muitos cheiros se misturavam dentro daquele carro: curral, mingau, suor dos netos, mudas de plantas, compras de supermercado, panfletos de publicidade que ela acumulava pelo carpete, sacos de roupas para doar etc, etc, etc. Uma verdadeira caixa de Maria, cheia de personalidade e anarquia. Antes do Siena, mamãe teve um fusca azul diamante, um gol verde metálico modelo antigo e um gol amarelo ovo playboy modelo mais novo. Todavia, o Siena prata talvez tenha sido o companheiro perfeito das andanças de Maria. Discreto, simples, porém robusto. Porta-malas

Frígidas e impotentes

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Por preconceito escancarado eu nunca ouvi funk de favela. Esse dos tais bailes que reúnem garotada do morro e do asfalto em noitadas questionáveis. Não, nunca me dei ao trabalho. Não sou como Caetano Veloso, adepta do “tudo é divino, maravilhoso”. E nem acho que ele também curta funk de favela ao ponto de fazer algo parecido em seus discos. Se o filho de Dona Canô (uma pérola de delicadeza) se rendesse à pobreza melódica e poética do bonde do tigrão, a gente poderia mesmo fechar as portas artísticas do Brasil e jogar a chave na Fossa das Marianas.  Mas eis que na sexta-feira passada meus ouvidos estarrecidos foram obrigados a conhecer o tal funk de favela. Não sei se existe essa denominação, classificação. Ou se estou apenas exacerbando o preconceito que já se afirmou como escancarado. É que eu quero falar (mal) dessas chamadas músicas que tratam as mulheres como vagabundas, os homens como traficantes e a sociedade como um grande bordel.  Era o aniversário de 12 anos

Da relativa inspiração

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Tudo é relativo nessa vida. Menos matar, roubar, puxar o tapete dos outros, estuprar, sequestrar. Perguntem para as vítimas. Renan Calheiros dizendo que a Ética não é fim, mas meio. Que lindo, não? A corrupção de cara lavada sobe à presidência do Senado. O Brasil também é relativo, gente.  Que nem o meu chefito de 20 e poucos anos afirmando, em reunião, que trabalhar seis horas por dia é muito pouco. Só se for para os meninos sem filhos, sem casamento e que ganham função comissionada. Para mim, seis horas já são mais do que suficiente, cara pálida. Tá vendo? Relativo.  E os e.mails que eu venho recebendo de uma ex-amiga que não fala comigo nem depois de eu me redimir mil vezes? São mensagens culturais e de curiosidades, nada que suscite uma reaproximação real... Ou sim? Relativo, provavelmente.  Chega uma determinada época pós-tingimento dos meus cabelos que tudo mundo começa a perguntar: você pintou o cabelo? Esse fenômeno é exclusivo da minha cabeça ou acontece co