Deadline


“O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é em mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há, e do que não há em mim...”

(Caetano Veloso)

Não sabia que o relógio biológico também podia soar seu alarme estridente aos 40. Ando tão comovida com os bebês atualmente... Querendo pegar qualquer guri/a molengo/a no colo e dar uma cheiradinha, um cafuné. Fico imaginando as mulheres que ainda não são mães aos 40 e dizem não sentir falta da maternidade. Será mesmo? Se eu que tenho dois e nem sou o estereótipo da supermãe judia me pego angustiada: seu prazo se esgotou, garota! Mãe de novo, só na próxima encarnação.
E aí a gente não tem certeza se é um desejo legítimo ou se você está acuada pela pressão social de exercer esse papel voraz. É uma comédia o tanto de gente, mulheres principalmente, que me perguntam: “Não vai ter uma menininha?” “Mas você não quer uma menininha?”
Bem, quem disse que essa questão tem a ver com querer? Com poder? Com ter vontade? É claro que eu queria ter uma menina. Toda mulher anseia por uma parceira de sonhos de bailarina, de sonhos de primeira menstruação, de sonhos de primeiro namorado, de noiva, de fofocas íntimas provando roupas...
Quando descobri que estava grávida do segundo menino, não fiquei triste nem decepcionada. Acho mesmo ótimo que eles sejam irmãos companheiros. Para os filhos é melhor que sejam do mesmo sexo no quesito cumplicidade. Talvez para os pais é que seja mais interessante polarizar o assunto e cada um ter sua imagem e semelhança desfilando pela casa.
Mas a sociedade é cruel e está sempre está a lhe espezinhar: “Mas você não sente falta de uma menininha?” Sim, sinto. E daí? Engravidar aos 41 e ter um terceiro menino? Seria perverso jogar numa criança a minha cara de frustração. O meu desapontamento. Também me recuso a virar essas mulheres insanas que eu vi um dia num documentário. Faziam de tudo para ter uma menina. Tudo. Até se esquecer de que já eram mães de maravilhosos garotinhos.  
Outro dia uma colega de trabalho perguntou para outra, todas na década de 40: “mas você não vai querer um bebezinho?” Resposta (eu sabia que ela já havia tido dois abortos espontâneos): “Engravidar nem sempre é uma escolha”. Ou seja, está faltando um pouco mais de sensibilidade feminina. Esta que é tão alardeada como sendo exclusiva do nosso gênero. Então por que são exatamente nossas hermanas as que nos infernizam com essas cobranças mesquinhas?
Claro que boa parte da retórica não tem má intenção. Por exemplo: minha tia amada gosta de me comparar com a Angélica. “Vocês tiveram filhos na mesma época e agora ela está grávida de uma menininha...”

Ela me ama e deve achar até que eu sou tão linda e gostosa quanto a Angélica. Meus filhos eu tenho certeza de que ela vê como os mais impressionantes do planeta. “A sua fôrma é tão boa, já pensou numa menininha linda como o Tomás e o Rômulo?” Já, já pensei. Várias vezes. Mas gravidez é loteria  e eu já ganhei duas vezes!! E se eu arriscar a sorte de novo e receber um menininho com síndrome de Down? Já pensou na porrada dessa mudança de vida?
Eu queria adotar uma garotinha. Meu marido desistiu da ideia. Mas é uma saída honrada e solidária para as não mães aos 40 cujos relógios biológicos não param de tocar. Ou para as mães de meninas que querem um menino. Ou mães de meninos que querem uma menina. Fica aqui a sugestão.


Comentários

  1. Não sei quem te falou que vida de homem é fácil!!!
    Na prática o que percebo é que as cobranças e neuras são distintas, mas igualmente potentes e desastrosas... mudam ao longo da vida, mas nunca nos deixam... pelo contrário, sempre recebemos novas maluquices na cabeça em cada esquina da idade.
    Até no que se refere a maternidade, no nosso caso chamado paternidade, as pressões e anseios são enormes e diversos... risos...
    Não tem nada de fácil em ser homem.
    Posso te garantir.
    Bj,
    Rodrigo.

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    1. Eu sei Rodriguetes!

      A intenção era justamente essa: provocar o debate e os comentários, sempre tão valiosos.

      Imagina se é fácil ser homem hoje em dia, com as mulheres competindo de igual para igual... Nós perdemos a feminilidade e vocês perderam a masculinadade nos padrões que estavam estabelecidos há séculos. É um nó na cabeça!!!

      Sem falar que o pai moderno hoje está com um monte de atribulações e culpas too.

      Um beijão e obrigada por seu testemunho,

      tia Lulupisces.

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    2. Eu tinha até esquecido deste assunto da competição com as mulheres, coisa que não existia antes, e hoje é tão complicada... :)

      Na mesma linha, como ficarmos mais femininos sem mudar de gênero?

      Conflitos (imposições) do mundo moderno!!!

      Esse mundo louco está cada vez mais louco!

      Bjs,
      Rodrigo.

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  2. É Luciana,
    O mundo está "virado" mesmo.
    Mas saiba você, que a Ana Olivia também tem as suas reservas financeiras. E, às vezes, ela empresta pra Eliane.
    Pra mim não, pois, como homem que sou, "sempre ando com dinheiro na carteira"!! (é preconceito, eu sei, mas aprendi isso muito cedo na minha vida - e enraizou)

    Com relação à sua mensagem no blog (é assim que se fala? Ou será o seu post no blog? Sei lá) Enquanto estava lendo, fui pensando na "nossa" terceira gravidez.

    No nosso caso, não havia uma expectativa por uma menina. Seria maravilhoso também se fosse outro menino. No seu caso, como existe esta expectativa, eu já fui pensando na adoção como solução, o que, no final, você abordou, mas decidiram não concretizá-la.

    Olha, você pode amadurecer a idéia de ter mais um filho, seja ele menino ou menina. E, eu te garanto, tanto faz, vai ser maravilhoso, independente do sexo da criança.

    Um beijo,
    Paulo.




    Date: Thu, 19 Apr 2012 17:53:53 -0300

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  3. Outro dia vi num edital para contratação de professor substituto, uma justificativa para a liçença do professor efetivo desta vaga e que me enterneceu: a licença-paternidade... que gut-gut!

    Ainda vem a menstruação, todo mes, e aí penso: ainda sou fértil, ainda posso, mas, até quando? Ai, nunca serei mãe de um menino!!!
    Vai dar um pânico (pane) geral na minha cabeça quando isso acontecer... o Gustavo quer adotar, então temos essa possibilidade. A Bruna, aos poucos, segue o caminho dela e eu, aos poucos, vou perdendo a oportunidade de ser mãe de novo. Crueldade da natureza. Talvez eu preencha a síndrome do ninho vazio com outra criança mesmo, vamos ver...
    Bjs
    Patty

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    Respostas
    1. Pattygirl,

      acho mesmo que vocês podiam adotar um gurizinho ou você dar um filho da barriga mesmo para o Gustavo. Acho que seria uma revolução na vida de vocês. Uma bênção! Mas não vou ser mais uma dessas mulheres que ficam cobrando atitudes. Sei que engravidar é um processo repleto de complexidades emocionais, financeiras, sociais...

      Seja qual for a sua decisão, importante, fundamental, é que ela seja SUA! Respeito a igualdade entre os sexos, mas nesse caso, acho mesmo que é a mulher quem precisa ter certeza do que quer.

      Mas tem outra coisa: ter filhos nunca é um ato racional, sabe?:) Se pensar demais, a gente não tem. O lance é deixar a emoção dar a última palavra.

      Beijão,

      Luzinha.

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