Recuerdos Minas-Bahia



A Capela de São José em Cordisburgo/MG
 Descobri que as melhores viagens são aquela sem expectativa alguma. Não esperava nada das minhas férias. Depois de um dezembro alucinado, com o tanque do meu gás na reserva, não tinha energia nem para fazer as malas, quanto mais para pensar no que me esperava para as próximas duas semanas.

O tal episódio do dedo esmagado, não na porta, mas na dobradiça, como esclareceu Bernardo, sempre exasperado com as minhas imprecisões técnicas, fez quebrar não apenas o osso no efeito alavanca que multiplicou em 40 vezes a força produzida pelo nosso amigo fechando o carro (nessas horas é útil ter marido físico: eles fornecem a real dimensão do nosso trauma). Quebrou minhas ilusões de fim de ano. Porém aprendi que realmente há males que vêm para o bem: essa viagem de janeiro foi uma das mais gratificantes que eu já fiz.

Portal Grande Sertão: "O sertão é do tamanho do mundo. O sertão é dentro da gente" (Guimarães Rosa)
A primeira parada foi em Cordisburgo, a cidade do coração, que mistura em seu nome alemão e latim, duas correntes linguísticas e filosóficas tão distintas que só poderiam dar à luz a um cidadão fora do comum: Guimarães Rosa. Foi bacana rever a cidade depois de tanto tempo...

Novas atrações nos esperavam, como esse portal comovente aí da foto. Para quem se apaixonou por "Grande Sertão: Veredas", era sentir a presença real de Diadorim e Riobaldo. Portais sempre levam a gente para mais longe ou mais dentro de nós mesmos, conexões inexplicáveis. Bom gosto e justíssima homenagem.

Joãozito, assim chamado pelos pais, meu amor literário

Diadorim, a mais importante heroína da literatura brasileira, zelai por mim!
Cordisburgo nos envolve com sua atmosfera pacata e lírica. Tudo ali remete à Guimarães Rosa, com frases do autor estampadas nas paredes da cidade. Deleite.

Dois irmãos em tempos de paz
A cidade parou no tempo das taperas e das prosas no meio da calçada. Nada acontece em Cordisburgo. Mas não precisa.

Cordisburgo me lembrou Macondo.


Só mesmo em Minas a gente proseia em qualquer canto

A linha de trem do nada para lugar algum. Virou só sentimento...

Casas do interior da gente. Luz de fim de tarde. Lembranças de fazenda...


O inusitado também tem seu lugar em Cordisburgo

Vejo, logo me encanto

Passado de trabalho; presente de memórias
Então chegou o momento de redescobrir a Gruta do Maquiné. Levar os meninos para o centro da Terra. A atração estava inteirinha ao nosso dispor. Bendita chuva que espantou os turistas desavisados.


Cascata ou órgão, eis a imaginação!

Um megabluster molar...

Família que explora unida pode ser divertir muito mais

Homens das Cavernas

Imagina Dr. Peter Lund desvendando esses mistérios com tochas em 1834...

Se já passa tanta coisa louca na nossa cabeça com todas essas luzes...

Ele não pôde ver a grandiosidade de tudo o que explorou, que pena!
Mas estou aqui para honrar sua coragem e legado!
E não poderíamos deixar de revisitar o MuseuCasa Guimarães Rosa. Tocante foi ver a letrinha de João dedicando o primeiro livro aos pais. Assinou Joãozito, assim como também chamo meus filhos. Ito é de doçura que ocupa o coração.

Romulito abre a janela para a imagem de João

Máquina na qual Guimarães Rosa escreveu "Grande Sertão: Veredas"



Pausa para um conto e um carinho no quintal da casa de João

Aqui o pai de Guimarães Rosa tirou o sustento que garantiu formar o filho médico e escritor

Pegamos a estrada novamente. Atravessar Minas Gerais é sempre um prazer. É como se eu fosse ao encontro marcado com meus ídolos literários: Guimarães, Adélia, Drummond... Minas nos deixa sem fala, introspectivos. A alma se inunda de montanhas e vales. Os olhos verdejam. As vacas e cavalos filosofam no seu pastar sem fim. "O mar de Minas não é no mar. O mar de Minas é no céu... Pra gente olhar pra cima e navegar, sem nunca ter um porto pra chegar".


Tinha uma pedra no meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra

Que tinha uma boca num meio sorriso

E escondia outras pedras a nos vigiar...
Minas-Bahia, enfim aportamos no extremo sul desse estado litorâneo de tantas belezas ainda preservadas. Já imaginou o susto dos portugueses achando que tinham alcançado o paraíso sem ter morrido? Ou merecido?

Nas águas mornas e calmas de Cumuruxatiba/BA

Em Guaratiba, um vislumbre da clássica cena: uma canoa, uma tapera...

Vamos viver de brisa?
 Na Ponta do Corumbal meu perdi. Não quis nem tirar fotos para não capturar a alma selvagem daquela praia. Melhor não revelar, não incitar a invasão de bárbaros.

Aqui estamos na Ponta do Corumbal/BA


Onde brancos e indios celebram a perfeição da vida
 
E converso e negocio com os descendentes dos meus ancestrais. Indíos pataxós: hábeis artesãos de rostos melancólicos


Praia do Cururupe/Olivença-Ihéus

Há menos de 10 Km da horrorosa Ilhéus, essa tranquilidade.

Guaratiba/BA: refúgio tranquilo para recarregar as baterias

Os mares e seus objetos não-identificados

Bem-vindo, sol! Agora somos dois nesse paraíso escondido

Alcobaça/BA: tranquilidade é o seu segundo nome
 
As terras do sem fim da Bahia...
Sexta-feira 13,  lua cheia na praia deserta: presente

Reserva Ecológica do Una/BA

Caminhar na copa das árvores é demais!

A flor do mandacarú é tão especial que só dura um dia...

Tomar caipiwi com a prima na praia do Itacarezinho não tem preço, apesar de ter custado os olhos da cara

Férias boas, entre primos e irmãos. Unfogetable!
Posted by Picasa

Comentários

  1. Aposto uma garapa e dois pasteis que o ponto alto da sua viagem foi ver a máquina que o Guimarães usou.
    Tocou nela quando ninguém estava olhando?

    Valdeir Jr.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Claro que toquei, né primo!! Pra ver se passava um pouco daquela energia criativa para mim... O Rômulo tocou e eu toquei junto, com a desculpa que estava tirando a mão do pentelhinho.

      Não sei se foi o ponto alto, pois já havia visto essa máquina. Mas sempre é emocionante mergulhar nesse universo. Acho que o ponto alto foi o menino do "Projeto Miguelin" contando um causo do Guimarães Rosa no quintal da casa dele. Bacana esse projeto que ensina os meninos a amarem a obra desse grande autor. Bjs.

      Excluir
  2. Hahahaha também aposto aquelas caipiwis e o bolo do teu niver!
    Prima belas fotos e obrigada pelo carinho.
    Beijos
    Dja.

    ResponderExcluir
  3. Lu,

    Amo ver tuas fotos de viagens. Eu viajo junto com vc. Obrigado
    por essa deliciosa experiência.

    Davide

    ResponderExcluir
  4. Oi Luciana,

    Legal suas férias.
    Vi as fotos. Deu pra perceber que os meninos curtiram bastante.
    Eu gostei das cavernas!! Que lugar é aquele mesmo?

    Beijo,
    Paulo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Paulo, é a Gruta do Maquiné, em Cordisburgo/MG. Vale muito a pena visitar!!

      Beijos,

      Lulupisces.

      Excluir
  5. Grata Lu, por compartilhar com a gente, seus leitores , momentos belos, inspiradores e relaxantes de suas férias, podes crer que viajamos juntos com vocês.Belas fotos!!!Adorei as da Gruta de Maquiné, e aquela do elefante, me fez lembrar Jaipur na India!
    Bj.Namastê!
    Cynthia

    ResponderExcluir
  6. Luzinha, que belas fotos!
    Curioso, acho que foi no mesmo dia em que vc viajou, vi na tv uma reportagem sobre Cordisburgo e imaginei vc lá. É tão bucólico, né? Que calmaria e que emoção! Vi a casa de Guimarães, as grutas, tudinho. Seus registros estão ótimos, viu? Prá que sonhamos com o paraíso, se ele é aqui? Falando em lugares bucólicos, estou dando aulas na zona rural pela primeira vez. Faço uma viagem de uma hora para lá e ganho 50% a mais de salário, por ser zona rural. O lugar se chama Monte Verde, e tem muito verde mesmo! Parece que estou num hotel-fazenda nessa escola, o ambiente lembra, sabe? Ah, e como numa escola-hotel-fazenda rs, o café para os professores é farto! Queijo, broa, biscoitos amanteigados... tô curtindo a nova experiência! Viva Minas!
    Bjs
    Patty

    ResponderExcluir
  7. E aí, prima?
    Batuta?

    Essa foto que você botou no blog, dessa pedrona perto da estrada, me deixou encasquetado.Só desencasquetei agora.
    Eu conheço aquela pedra.
    Passei por ela quando fui a Porto Seguro, em 1999.
    Me lembro que foi logo depois de sair de Nanuque, em Minas (que também tem um pedrão majestoso bem no meio da cidade).

    Sou desprovido de senso espacial e de orientação, mas tenho quase certeza de que é a mesma pedra.

    Era só isso o que eu queria te dizer.
    Tchau.

    Valdeir Jr.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Resposta correta, meu caro primo Watson!!

      Sim, é ela mesma! Inclusive paramos para almoçar em Nanuque, uma cidadezinha até simpática enfurnada num vale lá embaixão. Passeamos um pouco a pé por lá e tomamos sorvete de sobremesa. Viajar de carro é bom por isso: a gente faz o que quer na hora que quer e ainda conhece muitas paragens interessantes.

      Abreijos,

      Lulupisces.

      Excluir
  8. Ai, que delícia de férias... tudo o que eu queria agora... silêncio, mar, vastidão inabitada, tempo... quando andei com a família de então naquelas paragens (a Ana Clara ainda era quase um neném)foi a mesma paz, a mesma gratidão pela vida. Enfim, tem que voltar de vez em quando àquelas paragens. Não dá pra ficar mesmo sem Minas Bahia por muito tempo não. bjão

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. BelBel querida,

      estou com saudades de te ver ao vivo e em cores. Quando nos vemos?

      Beijocaspipocas,

      Lulupisces.

      Excluir
  9. Deve ter sido realmente uma delícia!
    SHOW!

    Rodrigo.

    ResponderExcluir
  10. Que maravilha de relato e de fotos. Viajei junto! besos, Débora

    ResponderExcluir
  11. Que otimo saber que você e sua família gostou de visitar Cordisburgo , parece que JGR tem uma marca em seu coração... E que aparecam mais vezes aqui em Minas , Cordisburgo ! Sera um prazer receber vc e sua família !

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ousadia

Presentim de Natal

Horizonte de Eventos