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Mostrando postagens de janeiro, 2012

A melancolia e a mochila preta

Delego à falange partida a culpa pela malemolência que me invade. Saí da Bahia, mas ela se esqueceu de sair de mim. Estou indolente ou dormente, como a ponta do meu dedo médio que acabou de tocar a tecla E. Meu ano ainda não começou, deve ser isso...  Mas hoje meu Tomás voltou às aulas em escola nova. Tudo diferente para ele, que bom, mas nada muito novo para mim. Estou melancólica. Talvez pelo filme de mesmo nome assistido no escurinho do Cine Brasília na noite de sábado. Que pancada! O clássico jeito de fazer cinema europeu ainda não sucumbiu à pressa da vida real. Não sei se é boa ou ruim essa constatação. Não, é boa. É sempre instigante existir centenas possibilidades de se contar uma história. Mesmo que esse jeito seja chatinho ou cabecinha. Todavia eu curti o filme. Lars Von Trier não ameniza, não adula. Admiro. Mas meu filho saiu da escola pública e isso me deixou um pouco triste. Uma utopia que chegou ao seu The End. Foi feliz, pois ele aprendeu e conviveu com a diversidade

Corações dispostos

Simone é o nome dela. Não temos nada em comum a não ser nossos registros profissionais e nosso local de trabalho. Ela é taurina apegada ao detalhe até a perfeição. Garantida, pé na terra. É doce, gosta de doce. A gente nunca se desgostou, não é raro? Tem gente assim: um achado que vai lado a lado sem arroubos, mas também sem percalços. Almas que nos fazem bem só por estarem por ali, ao alcance de um abraço ou sorriso.  Pois Simone me mima. Pra onde viaja me traz um agrado. Tem sempre um regalo para me surpreender quando menos acredito que vale a pena toda aquela máquina de tortura chamada rotina de trabalho (no caso do serviço público a expressão se aplica tão bem...). O gesto me comove porque não entendo Simone lembrar de mim assim, pelo afetuoso gesto de lembrar. Ela já foi minha chefe. Hoje, um andar nos separa. Mas na mente dela tem um lugarzinho para mim, veja só: para a pisciana avoada, de roupas multicoloridas e pensamentos delirantes. Simone não me julga, eu acho. Ela deve g

A porta da esperança*

Meu cunhado (vou logo esclarecendo que tenho por ele grande apreço) disse um dia que meus textos não faziam mais sucesso porque eram confessionais. Porque eram apenas relatos em primeira pessoa acerca de uma pessoa que não faz a menor diferença para a humanidade. Tá bom, ele não falou assim, cruzes. Mas eu gosto de dramatizar, como boa pisciana de ascendência leonina. Além de ser um número quatro do Eneagrama, a romântica trágica por excelência. Porém eu entendi o que ele quis dizer e concordo com ele. Eu fico aqui falando de mim mesma o tempo todo. Uma baita egotrip. Mas se eu soubesse escrever romances, vocês acham que eu já não estaria escrevendo? Mesmo com o dedo quebrado. Sim! Pois sou compulsiva das palavras, uma insana. A louca da casa, não é Marisa? Estou de licença médica para não usar o dedo em recuperação, porém não posso deixar de alimentar meu blog e meus parcos, todavia leais e divertidos fãs. Entretanto nessas férias, nas quais milagrosamente eu não rabisquei uma linh

Querem um sonho?

Aí está ele, o mar, a mais ininteligível das existências não humanas. E aqui está a mulher, de pé na praia, o mais ininteligível dos seres vivos. Ela e o mar. Só poderia haver um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis feita com a confiança com que se entregariam duas compreensões. Ela olha o mar, é o que se pode fazer...   ( Clarice Lispector) Foi a pergunta que eu fiz para as meninas no quintal da tapera. Rebocos caindo aqui e acolá. Um sol de verão alumiava as nuvens baixas. A estrada de terra sacolejava o espírito de aventura. Insisti pela descoberta da praia. No caminho, comprei um sonho de padaria. Um sonho com cara de ontem. Mas um sonho. Quem não quer? No carro, ninguém se interessou. Meninos de cidade grande não veem muita graça em sonhos caseiros esquecidos na beira da estrada. Mas eu fui nutrindo o meu, de conhecer aquela praia que ouvi falar tanto tempo atrás. As praias, que bom, nunca me desapontam. Se elas me cha

As primeiras horas de vida

Estou prestes a entrar mesmo de férias. Esses últimos dez dias não contam porque, em casa, não se descansa da rotina do ano. Ainda mais sem lava-louça aliada às férias da empregada, essa, sim, já curtindo sua Barro Duro/PI. (Fico aqui com meus botões, ou melhor, com minhas teclas pensando: que mal fez um lugar para ser batizado assim?) Mas estamos no tal ano do fim dos tempos. Um ano bissexto, par, com carinha bonitinha, redondinha. Nasceu quase sem dor, quase sem alarde, quando o vento levantava o meu vestido olhando o céu pipocando em fogos ali na Esplanada. Ficamos de longe, só mesmerando o dia UM emergir da escuridão. Um ano de estreias: primeiro dedo da mão quebrado na antevéspera; primeira vez que meu primogênito fica acordado depois das doze badaladas para ganhar bolo de nozes da vovó Paula e cafuné; primeira vez que me arrependi de não ter passado mais réveillon(s) com minha mãe. Deu uma vontade doída de ligar para ela lá no além e desejar: feliz ano-novo, mamãe!! Aqui n