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Mostrando postagens de dezembro, 2011

Babel Mística

Numa tarde de prosa com mi hermana, ela descobriu que o anel da mamãe que estou usando na mão esquerda tem um símbolo da maçonaria gravado no aro interior. Intrigante... De quem mamãe teria comprado um anelzinho de ouro gravado com um compasso dentro de um círculo? Mistérios de dona Maria que nunca iremos desvendar... Mamãe era um enigma. Mas essa historinha me fez recordar uma matéria que escrevi há onze anos. Era um freela para a revista chamada "From Brasília to you". O projeto era bilíngue e pretendia ser uma publicação para os turistas brasileiros e estrangeiros que visitam a cidade. Acho que não deu certo, mas tenho o primeiro número, pois ali está o meu texto (pelo qual nunca fui paga, aliás) que posto para vocês com algumas atualizações. Afinal, fim de ano é sempre tempo de refletir sobre a espiritualidade e rever nossos conceitos e preconceitos, certo? Babel Mística Desde a sua concepção, ainda na prancheta do urbanista Lúcio Costa, a cruz, no centro da nova capit

(Descom) passado

Naquela noite, Suzana estava mais  W3  do que nunca toda eixosa cheia de L2 Suzana,  vai ser superquadra assim  lá na minha cama (Nicolas Behr) Brasília, 26 de dezembro. Num dèjá vú, me pego pedalando pela W4 e W5 da minha adolescência. Os carros minguados não oferecem perigo. Seres viventes sou eu, um cachorro sarnento, pedestres esparsos. Na bicicleta estou. Liberdade para mim é flanar sobre duas rodas. Coração batendo mais forte, arfando com o esforço que gira a roda da vida do pedal.  Escolho a trilha (sonora) do dia e me lanço em passeio solo. Catar conchinhas numa praia deserta também tem o mesmo efeito libertador. Porém, na impossibilidade do mar, pedalar é preciso.  Tenho saudade dessa minha cidade anterior. Aquela que abrigava as frases feitas: “O melhor hospital de Brasília é a ponte área”. “Brasília fica um deserto no fim de semana: todo mundo vai embora da capital na quinta-feira”. Bem, deputados, senadores e ministros do Judiciário continuam indo embora para o fim

Pratos limpos

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"A vida é muito cantável " (Guimarães Rosa) Papai Noel, acho que terminei o ano melhor do que comecei. Tudo bem, o Remeron deu uma forcinha: me fez dormir, me fez sonhar. Me ajudou a atravessar o luto com dignidade. Apesar de uma certa consciência pesada, é claro. Fora para os hipocondríacos, tomar pilulinhas nunca é muito divertido. Mas é a única que eu ingiro, Papai Noel, por uma boa causa. Tô perdoada? Remédio sozinho não faz verão, e eu sei que tem dedo meu lambendo esse bolo. Eu me esforcei, lutei, não me entreguei. Consegui navegar mais um ano em meio a tempestade. Deu enjoo algumas vezes, vomitei. Porém sabia que a terra firme estava logo ali. Fui disciplinada como sempre. Sem desistir, organizada. Não perdi as aulas de yoga, me aventurei em novos desafios: ciclying in door, circuito funcional, body combat. Fiz coisas que nunca fiz antes. Não me permiti empacar, embrutecer, envelhecer nos pensamentos. Até em curso sobre a reforma do Código Civil eu me meti, Papa

Emoção sem limites

  “Vou-me embora cantando Com meu coração chorando E vou deixar todo mundo Valorizando a batucada” (“Adeus Batucada”, na voz da Pequena Notável) Tenho uma colega de trabalho que costuma dizer, em tom de ironia para eventos chatos: “foi uma emoção sem limites”. Na mesma linha, Mafalda exclama: “hoje entrei no mundo pela porta traseira” (do ônibus). Mas nada disso, na verdade, tem a ver com o que eu quero dizer. Só lembrei da expressão da minha colega de auditório porque, na história que conto a seguir, a emoção foi de, fato, sem limites. O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) realizou, em maio de 2009, uma homenagem deliciosa ao centenário de Carmen Miranda. Em quatro shows de altíssima qualidade, a pequena notável foi merecidamente celebrada por quatro duplas de cantores não tão conhecidos do grande público, salvo Eduardo Dusek, que andava meio sumido, fazendo uma graninha em trabalhos de gosto duvidoso, como apresentar a premiação do prêmio Sesc de fotografia, artes plásticas e

Matemática do afeto

Puxa, já está chegando... Sábado estamos aí de novo, para mais um Natal. Entretanto o Natal é sempre tão diferente. Desculpem os que não gostam da data, mas eu acho mesmo que essa época sempre nos surpreende com novos votos, nova energia, novos reencontros e muita poesia. Eu adoro Natal! Família grande é muito bom nessas horas. Qualquer almoço já vira festa. E as crianças sempre fartas. Sobrinhos de várias faixas etárias nunca faltaram. E Natal, vamos combinar, tem de ter gurizada. Porque são eles que nos mostram que sonhar colorido é muito mais divertido. Mamãe era uma sorridente contumaz. Não tinha tempo ruim na vida dela. E a vida dela não foi fácil. Isso também me surpreendia: a cada ano que passava, mamãe parecia mais jovem. Não dava a menor pelota para a velhice. Era a mesma moleca travessa, fazendo suas diabruras natalinas: presentinho para todo mundo, pernil bem temperado, enfeites novos para cada árvore, que muitas vezes foram de verdade. Saíamos para cortar um pinheiro de

Niemeyer e as baratas

Vou logo avisando: tô do contra hoje. Azeda. Boçal. “Brasilienses reverenciam os 104 anos de Oscar Niemeyer”. Bem, eu sou brasiliense e não fiz reverência nenhuma. Esse Niemeyer já deu, né? Está vivendo demais, se intrometendo demais... Fingiu ser comunista e se refastelou na economia de mercado mais vil: o tráfico de influência. Brasília nunca mais vai se ver livre de Niemeyer e de sua descendência arquitetônica. OK, eu adoro o Palácio do Itamaraty e do Alvorada. A Catedral é febril, uma obra divinamente monumental, e o aga do Congresso Nacional, com seu circulo partido ao meio, é emocionante. Mas chega, certo? Foi lá, em 1950, modernismo na veia. Agora não tá com nada. Já escrevi que Brasília é bacana exatamente porque é uma só. Não devia ser imitada a torto e direito em repetecos do arquiteto nas obras espalhadas pelo Brasil e também no mundo. Niemeyer vive das glórias eternas da capital, refazendo seu samba de uma nota só. Tudo muito concreto, árido, ostensivo, opressor. A arqu

Bad Trip

Desculpem, leitores, por blogar um texto tão amargo nesse clima natalino, mas continuo acreditando que a Tati Bernardi e eu somos almas gêmeas. Ou bivitelinas separadas ao nascer. Só que ela foi parar numa família menos desfuncional!!:) Acontece que me gusta esse texto deprê escrito na lucidez do desespero de anos atrás. De certo modo, ele continua bastante atual. Pior pra mim. A Tati (minha Raquel ou será minha Ruth?) vai muito bem, obrigada. Continua na crista da onda, nas páginas das melhores revistas. Ontem mesmo li um texto dela na Alfa. "Quem ri por último, rivotril". Estranha coincidência... Na mesma semana em que meu filho quase se matou involuntariamente com uma megadose desse remedinho infame. Divirta-se se for capaz!! UHARRRUHAUHARRR... (PS.: isso aí é uma onomatopéia que tenta transmitir aos leitores o sorriso sinistro do Bela Lugosi ou do House, para os menos cinéfilos) Domingo à noite. Pego o livro da Tati Bernardi que está sobre o móvel de cabeceira e inicio

Patrulheiros do (nosso) universo

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Filhos... Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos Como sabê-lo? Se não os temos Que de consulta Quanto silêncio Como os queremos! Banho de mar Diz que é um porrete... Cônjuge voa Transpõe o espaço Engole água Fica salgada Se iodifica Depois, que boa Que morenaço Que a esposa fica! Resultado: filho. E então começa A aporrinhação: Cocô está branco Cocô está preto Bebe amoníaco Comeu botão. Filhos?  Filhos Melhor não tê-los Noites de insônia Cãs prematuras Prantos convulsos Meu Deus, salvai-o! Filhos são o demo Melhor não tê-los... Mas se não os temos Como sabê-los? Como saber Que macieza Nos seus cabelos Que cheiro morno Na sua carne Que gosto doce Na sua boca! Chupam gilete Bebem shampoo Ateiam fogo No quarteirão Porém, que coisa Que coisa louca Que coisa linda Que os filhos são! (Vinícius de Moraes) Em determinado momento do piquenique no parque, cantarolo. A parte da música que eu sabia acaba. Paro. Rômulo olha para m

Que os deuses tecnológicos nos preservem as amizades!

Escrevi esse texto no fim de 2008. E como me parece ainda mais atual com o advento do facebook, remasterizo aqui para nova leitura ou leitura nova. Desde já desejando bons amigos ao seu lado nesse ano que se fecha à espera de outro, ainda mais amoroso e fraterno. "Reconheçamos o básico: uma vida sem amigos é uma vida vazia”. A afirmação perfeita da escritora e dramaturga Martha Medeiros, lida na Revista Globo, lá no Rio de Janeiro, foi relembrada nesses dias em que o valor da amizade ficou evidente em dois episódios. No primeiro, uma amiga do primeiro grau – hoje chamado de ensino fundamental – me envia uma foto resgatada do Orkut onde lá estava euzinha nos meus 12 anos. Tão infantil, tão inocente. Era um evento cultural do Colégio Notre Dame, no qual reproduzimos uma dança típica dos alemães. Ao meu lado, sentado no chão do pátio da escola, estava Marco Antônio, meu primeiro amor. Não sei se naquela foto já estava apaixonada por ele, mas isso é outra história. O importante fo

Alfabetização tardia

Para minha amada amiga BelBel, companheira de descobertas na Caixa Cultural “O que as letras fazem quando estão contentes?” Tai um questionamento que nunca passou pela minha cabeça louca. Por isso a cultura inteligente e criativa é tão instigante. Ela, de modo algum, nos deixa enferrujar o pensamento. Reservar um tempinho para as exposições sem compromisso é vital. Ar que respiro. É assim que eu me deixo levar pelos passeios dominicais na Caixa Cultural: sem expectativas. Entretanto as três galerias não decepcionam: o aprendizado sempre vem. Domingo de manhã não tem programa mais legal que me aventurar naquele lugar vazio. Tenho a sensação onipotente de que aquilo tudo foi montado exclusivamente para mim, para o meu deleite de aprendiz da arte. Seja ela em forma de pintura, fotografia, cartazes, vídeos, letras... Ah, as letras... Tão surradas, digitadas e divulgadas. Quem é que presta atenção em tipografia, não é verdade? Publicitários, artistas gráficos, designers e olhe lá. As

Imprescindível

“Hasta dónde debemos practicar las verdades? Hasta donde sabemos? Sílvio Rodriguez Algumas obsessões assombram como fantasmas. Mas não apavoram, só retornam dioturnamente e a gente toma chá com elas, como fazia Quintana com seus amigos espectrais. Entre as minhas fixações preferidas está a minha amiga íntima música. Musa avassaladora. Espantoso saber que algumas pessoas não se importam de ficar sem ouvir canção alguma ao longo do dia. Incompreensível. Queria com muita força tocar um instrumento. Tentei o violão, mas os meus amados são o piano e o violoncelo. Não consegui nada além de decorar algumas cifras e angariar um paquera quando, aos 14 anos, voltava de ônibus após mais uma aula “caminhando e cantando e seguindo a canção”. Carregava o trambolhinho posando de cantora folk e o garoto bonito de olhos verdes, Alexandre, me perguntou se poderia acompanhar a donzela aqui até em casa. Hoje, oferta como essa seria, no mínimo, assustadora. Porém, naqueles anos 80, na Brasília na trans