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Mostrando postagens de fevereiro, 2011

Uma vida de cisne

Poucas vezes no teatro ou no cinema o ator tem a oportunidade de fazer a interpretação "de uma vida". Os papéis nem sempre deixam. Ou ainda há os que não perceberem que aquela personagem é um presente divino, que lhe cai no colo em forma de roteiro. Mas não foi o que fez Natalie Portman em Cisne Negro. Ela agarrou - literalmente - sua oportunidade e brilhou. Mereceu ganhar o Oscar porque sua Nina já está entre as personagens mais arrebatadoras do cinema. O filme, em si, não tem nada de novo em matéria de tema, edição, montagem, roteiro... Mas a Nina, o que é aquilo, hein? Eu fiquei transtornada com a perfomance da pequena Natalie. Quem ama balé como eu e já dançou nos bailes da vida, sabe que tudo aquilo é 100% verdade. A neurose, a competição, a adrenalina, a exaustão, a ansiedade, as canalhices, a inveja, a anorexia e a bulimia. Fiz dança por oito anos. Nunca fui a primeira bailarina, estava sempre no segundo escalão, mas podia sentir no ar a briga silenciosa e mortal

O centauro voltou para o céu

Sei que prometi fotos e postagens sobre as peripécias no Recife, mas deixo o domingo, dia normalmente já um tantinho melancólico, para homenagear Moacyr Scliar, grande escritor, cronista, analista irônico e sutil dos sentimentos mais viscerais dos homens.  Foi com tristeza que soube da sua internação e hoje descubro que faleceu. Novo, na idade da minha mãe. Poderia escrever ainda por uns dez anos, no mínimo. Assim como minha mãe poderia estar sorrindo entre nós por mais uma década. Perdas insubstituíveis. Maria, só para a intimidade. Scliar, para a literatura brasileira e, quiçá, mundial, pois o médico-escritor foi traduzido em vários idiomas. Aproveito para agradecer ao Lulu1, Luiz, quem me presenteou com o meu primeiro exemplar de Scliar: "Saturno nos Trópicos". Foi amor à primeira revelação. Depois, vieram "O centauro no jardim", "A mulher que escreveu a Bíblia", "A orelha de Van Gogh" e "Manual da Paixão Solitária". Sem contar a l

Quatro estrelas

Oi galera leitora, Sumi sem deixar pistas, recados, traço...Without a trace. Mas até que não seria nada mal poder desaparecer assim, ir comprar cigarro e se mandar sem dar satisfação. Sei que isso não condiz com essa vida anunciada, publicada, egóica e publicitária dos blogs e facebooks, e então devo ter perdido centenas de fãs nesse momento (sonhar não custa). Entretanto adorei não estar conectada por 10 dias. Era eu comigo mesma. Só burilando os pensamentos de frente para a praia do Pontal do Maracaípe/PE. Fiz 40 anos na segunda-feira. Começar a semana nos enta, com jetleg de fim horário de verão seria nada auspicioso. Mas aconteceu de eu estar lá, de cara para o paraíso. Acordei me sentindo ótima. Abri a janela do quarto do chalé e vi aquele sol pernambuncano queimando o meu rosto. O vento do mar e o som rouco das ondas me atingiram como um prenúncio de ano bom. Esperei que meus homens me dessem os parabéns, mas eles esqueceram, é claro.:) Então, tive que fazer o favor de pedi
Esse texto foi escrito em 2009 e publicado no blog do Vicente, no Correio Braziliense. Mas, ao receber o email da amiga Débora falando da "importância do brega", decidi republicá-lo no meu querido blog. Como esse, são cerca de 40 outras histórias que ainda preciso trazer para cá. Então, aguardem o meu flashback, que será feito em gotinhas, misturadas ao mar de escritos novos. Enjoy! Nas asas do amor Escute essa canção, que é pra tocar no rádio, no rádio do seu coração. Você me sintoniza e a gente então se liga nessa estação... Deixa eu penetrar na tua onda, deixa eu me deitar na tua praia...Que é nesse vai e vem, nesse vai e vem, que a gente se dá bem, que a gente se atrapalha... (Moraes Moreira) Encontro de casais, terapia de casais... Estas alternativas sempre me pareceram o fim da linha para os casamentos. Quando já não existe conserto tenta-se a “lanterna dos afogados”. Mas não é que meu marido e eu acabamos participando de um workshop melosamente chamado “V

Havia um pilar no meio do caminho...

"E como vai a reforma?", perguntam os leitores e amigos que já me rotularam de louca por tamanha empreitada. Pois é, nessas últimas semanas, estávamos na fase ajustes "finais" do projeto arquitetônico + peregrinação nas lojas de revestimentos para orçar possibilidades de piso, acabamentos, detalhes decorativos, metais, louças... Vocês não acreditam na infinidade de possibilidades estéticas que podem conter um vaso sanitário!!!! Incluindo aí uma paleta de preços que vai de trono do rei à casinha de madeira lá no fundo do quintal. Bernardo fez uma planilha minuciosa, listando todos os produtos que teremos de comprar para deixar o apartamento no século XXI. São mais de 150 itens!!!! E, orçando um preço médio entre o produto mais em conta e outro top de linha, já estávamos alcançando uns 35 mil só de quinquilharias. Impressionante! Vou postar esse trabalho detalhado do meu marido, que encantou até mesmo a arquiteta. Ela pediu uma cópia para ela. Ninguém deveria começa

Epístola de Santa Luciana aos afetos

O primo cinéfilo me deu um toque: "veja, porque você vai gostar!" E ontem, sem esperar, como uma surpresa boa ou talvez por estar pensando tanto nele, no meu primo, que é meu irmão a me cativar desde que nos permitimos ser amigos - numa idade em que parentes de primeiro grau já se desconhecem, se a amizade não foi cultivada na infância - eu apertei o botão e estava lá: "Mary e Max", no Telecine Premium. Um poema visceral em stopmotion falando do sempre fervilhante mundo da amizade entre opostos, entre desiguais, entre diferentes, entre novos e velhos, velhos e novos. Entre gente que "nunca se viu, mas sempre vai se amar". Ideia nada original, mas que rende filmes belos, tocantes, filosóficos. Desconfio que diretores que contam marcantes histórias de afeto têm, na vida real, guardada nos bolsos dos jeans surrados, a pedra preciosa dos relacionamentos eternos. Espero que eu esteja certa e que esses caras sejam abençoados como eu sou por ter esse primo,

Bolo e missa

Entrei no mês 40. Daqui há pouco atingirei o que antes creditavam como metade da vida. Serei uma jovem senhora de 40 anos. Essa idade mitificada, temida, angustiada. Mas é estranho porque não me sinto com 40 anos. Não estou sentindo nada de anormal em fazer quatro décadas de vida. Sabe os velhos clichês do tipo: “parece que foi ontem”. Pois é, pior – ou melhor – é que é isso mesmo. Não estou acreditando que já vivi tudo isso. E não foi uma vida fácil, vamos combinar. Muitas perdas, muitas lacunas. Quando estava tentando encontrar uma terapeuta legal, eu ficava chocada com a minha ladainha: aos 11 meses morreu meu pai; aos nove, o único avô que beijei; aos 17, meu substituto de pai (o marido da minha irmã mais velha); aos 34, minha sobrinha Luísa; aos 39, minha mãe e minha madrinha. Espantoso. Mas nem assim eu estou sentindo o peso da idade. Só da saudade. E do abandono (matéria para 300 sessões terapêuticas). Contudo, completar 40 anos é bom. Não sei ainda bem pra quê, porém deve s