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Mostrando postagens de 2009

Verborragia sem pedir licença ou “Para não acharem que sou só frivolidades”

Quando querem transformar dignidade em doença, quando querem transformar inteligência em traição, quando querem transformar estupidez em recompensa, quando querem transformar esperança em maldição: é o bem contra o mal, e você de que lado está? Legião Urbana Falar em ética jornalística, ética médica, ética política é reduzir o conceito ético e permitir, algumas vezes, condutas um tanto reprováveis em nome da classe, da corporação, do grupo. Por isso não acredito em tipos de ética. O valor-ética, o padrão-ética, a postura ética é uma só, pois esse é um conceito que faz parte do âmago da vida social. Se não fôssemos humanos, se não nos organizássemos em comunidades, não haveria a necessidade de conduzir nossas ações pelo viés moral da ética. É lógico, e vivenciamos isso todos os dias, que o fato de vivermos em sociedade não nos impede de sermos antiéticos o tempo todo. É quando a força fala mais alto. A força política, jornalística, médica que surge quando usamos o poder de coerção,

Pé de pato, mangalô, três vezes

“bailam corujas, pirilampos, entre os sacis e as fadas e lá no fundo azul na noite da floresta, a lua iluminou a dança, a roda, a festa..” João Ricardo e Luli Via o prazo final para o envio do texto se esgotar e continuava no vácuo criativo. Escrever sobre o quê? Se pelo menos eu fosse uma versão feminina do Veríssimo e soubesse imprimir humor e reflexão nos assuntos mais sem graça, estaria salva. Aí, de repente, abro minha caixa de mensagens e encontro um recado da amiga paulistana: “Halloween é o cacete/Viva a cultura nacional”. Pronto, num passe de mágica típico das fadas, o tema se apresentou. Primeiro levei um pequeno susto, afinal esta minha cara companheira de estrada é das pessoas mais finas que eu conheço. Eu acho que nunca a vi xingando ninguém. Mas também sei o quanto ela é brava com a história do halloween . Ela vive promovendo o Dia do Saci e uma das óperas favoritas dela é, claro, “O Guarani”, do nosso Carlos Gomes. Mas brigar contra o Dia das Bruxas não é uma brig

Divagações em sol maior

A música de Villa-Lobos é cachoeira, passarada, é céu azul em sol nascente, é noite de lua nova e  estrelas, é floresta e cerrado, é princípio sem fim de um enorme desejo de encontrar no canto a nossa redenção. Fabiano Canosa Passei dez dias no eixo Rio e São Paulo. Foi a segunda vez que curti esta experiência: sair de Sampa rumo à cidade maravilhosa. É interessante enxergar as diferenças gritantes entre as duas maiores metrópoles brasileiras, pois elas ultrapassam, é óbvio, as paisagens urbanas diversas de cada uma. Acho que a praia dá mesmo uma leveza ao Rio que é impossível encontrar em São Paulo. Em compensação, não encontramos em São Paulo tanta gente disposta a passar a perna na gente quanto no Rio. Xi, agora ferrou! Os cariocas vão me linchar em praça pública. E olha que eu nem uso minissaia e não existe filminho de transa minha circulando na internet (eu acho), ou seja, ainda posso ser considerada uma moça de “boa família”. Mas a malemolência do Rio realmente frustra. Mos

Fernanda de Beauvoir

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Eis que passa por mim, com sua simples altivez, a estupenda Fernanda Montenegro. Quase engasgo com o meu sanduíche de peito de peru, mussarela de búfala e saladinha. Quase vou lá tietar. Mas um flash de sensatez me deixou sentada onde estava, num café do boçal shopping Fashion Mall (com este nome já diz tudo). Esperava justamente ela, mas não ali nos corredores, como uma vovó elegante olhando as vitrines. Daqui a meia hora estaria de frente para a maior artista viva do país em “ Viver sem tempos mortos ”. Foi deveras interessante perceber o quanto Fernanda é mesmo uma deusa do Olimpo das artes. Este encontro inesperado no corredor do shopping deu a prova definitiva de que não é preciso quase nada para alguém talentoso operar o milagre de se transformar em outra pessoa. O santo baixa em mínimas sutilezas. No tablado ela estava com a mesma camisa branca de gola que vestia ao passear pelo shopping. O que ela fez foi sentar numa cadeira, tirar os óculos de armação negra e prender o cabe

Uma mulher sob a influenza

Santa providência, Batman! Será que, enfim, estou perdendo o medo de voar? A menina-gata-garota-carioca-suingue-sanguebom sentada à janela me ofereceu um serenata de amor que, com bravura, recusei (já estava com meu estoque de chocolates na bolsa, uma caixa virgem de alpinos. Afinal, toda chocóolatra que tenha a dignidade de receber tal título precisa de um arsenal de emergência nas alturas). A gentileza da companheira de voo era a prova irrefutável de que eu iria mesmo fazer uma conexão no Rio de Janeiro, aeroporto internacional Antônio Carlos Jobim. Ser simpático é da natureza dos cariocas. A esbelteza clean e descompromissada também. Daí que olhei para ela e percebi que um pôr-do-sol lindo estava me convidando do outro lado daquela janelinha pombal. Havia um céu de cinema lá fora, ao meu lado, viajando comigo e eu ali preferindo o corredor vazio. Arrisquei ficar de bobeira, me apaixonando por aquele cenário. Acabei me esquecendo de que estava a milhares de quilômetros do chão. C

Menina obediente

ô mundo tão desigual...tudo é tão desigual de um lado esse carnaval, de outro a fome total Torquato Neto e Gilberto Gil Folhear revistas femininas é divertido. Às vezes você encontra textos interessantes e concursos culturais desafiadores. Uma vez ganhei uma semana free em um dos SPAs mais caros do Brasil ao participar de um deles com um texto que pretendia saber: “o que é boa forma pra você?”. Nestes dias, tive que passar um tarde inteira no salão de beleza. Gente, como essas modelos e celebridades aguentam tamanha provação? Não há cérebro que não derreta com o barulho dos secadores, o cheiro de ácido fórmico e a futilidade reinante. Uma das moças que trabalhavam no lugar traduziu muito bem o lema de sua vida: “você está tão séria hoje, dona Lígia. Não pensa muito não, não vale a pena. Eu não fico pensando”. Eu olhei pra ela pensei: “é isso aí”, enquanto minha cabeleira volumosa mudava de cor e de formato. Pois é, sou mulher e não posso renegar a minha condição de ser da espécie

Independência ou morte!

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Populações quilombolas, ianomamis, caigangues... Minorias sob o olhar vigilante de ONGs que estão sempre a postos para defendê-las, mas quem protege os dreadlocks deste Brazilzão de meu Deus? Por isso, lanço aqui um manifesto: Salvem os remanescentes de Woodstock!! A gente pode se divertir muito com eles. O meu processo de conscientização acerca da relevância da população rasta, aquelas peças raras que carregam na cabeça cilindros de cabelo à la nós de marinheiro, aconteceu neste último fim de semana, quando acampei em São Jorge, vila que rodeia a entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Fazia algo em torno de um século que eu não tomava parte num programa de índio dessas proporções. Chuveirinho: planta típica do Cerrado Foi revelador! Escolhemos um camping apinhadinho de dreads, garotos e garotas na faixa dos 20 anos curtindo a juventude na tranqüilidade e na marijuana porque ninguém é perfeito, afinal de contas. Mas conta aí, o que fez você sair em defesa dos lock

Não dê as costas ao relógio biológico

Tenho me lembrado muito de poemas que falam da angústia da passagem do tempo, da impotência da gente em não congelar para sempre as melhores coisas da vida como nossas mães, por exemplo. “Por que Deus permite que as mães vão-se embora?” Drummond não é o único imerso nesse sentimento devastador, apesar de falar dele de forma magistral. Adélia Prado também pede o impossível: “me dê a mão, me cura de ser grande. Meu Deus, me dê cinco anos...” E Lya Luft fez os mais belos poemas sobre o que nenhuma mãe quer: ver seus filhos crescerem. “Vens tão entregue e sei que não és minha; és do teu futuro que eu não alcançarei inteiro. Presa no meu abraço eu te sinto voar...” Dorme filho meu, que eu te contemplo. Teu olho escuro me interroga como se soubesses muito mais coisas do que eu... Anjo esperado, logo um homem, dramaticamente um homem, mas meu filho...” Estranho que nesta semana eu tenho sentido o coração muito apertado, repleto de pensamentos escorregadios... Mas seria diferente com tant

Moral da História

“Ai de mim...sempre em mim...” (Clarice Lispector) Com mensagens edificantes em power point pululando na caixa de entrada dia sim e outro também, como não se sentir tentada a elaborar meu próprio texto de autoajuda para amparar a mim mesma? É impressionante como as pessoas querem ser lidas, ouvidas, comentadas. Precisam desesperadamente dar “lições de vida”, contar suas histórias de superação. Andy Warhol foi mais brilhante por visionar a necessidade de brilhar do ser humano (nem que por apenas 15 minutos), do que por sua qualidade como artista (sem desmerecê-lo, porque gosto do jeito pop, mas a frase, sim, ela é definitiva). Portanto cá estou eu aqui expondo experiências pessoais em conta gotas neste blog alheio. Também sou cria deste tempo, né? Por isso quero contar que voltei a andar de bicicleta após quase um ano do acidente. Foi tão libertador e divertido quanto pode ser o vento no rosto com o sol por trás, ou seja, não fiquei traumatizada com a minha bike. Um alívio percebe

Carne viva

         “Quero ficar no seu corpo feito tatuagem, que é pra te dar coragem pra seguir viagem quando a noite vem...” (Chico Buarque) Se você faz uma tatuagem, logo vai querer fazer outra. Essa lenda urbana corre por aí e nestes dias me parece que está mais real do que nunca. Dizem também que não se deve fazer tatuagens em número par. Ou é uma ou são três, cinco, sete... As tatuagens ímpares dão sorte, é o que falam os interessados no assunto. Sei lá que superstições alimentam estes comentários disseminados nas rodas de conversa, só sei que está crescendo em mim a vontade de me tatuar novamente. Minha professora de yoga já tem nove. O marido da minha amiga diz que já está a fim de fazer a segunda e eu, como ele, também. Talvez vire três, porque, afinal, não vale a pena dar mole para o azar. É engraçado que a gana vai tomando forma aos poucos, como uma espécie de obsessão. Deve ser por isso que tanta gente tem tantos desenhos espalhados ao longo do corpo. Hoje entendo este afã

A casa da vovó nunca é longe

Que legal deve ser ter avô, né? Eu me lembro de que eu quase tive um. Ele era o pai da minha mãe, um velhinho bem velhinho mesmo, que andava curvado, devagarzinho. Eu visitava a casa dele nos feriados e nas férias. Ele se chamava José e morava numa cidade com um nome de ave: Inhumas. Sabe onde fica? Perto de Goiânia. Meu vô José era conhecido com “Seu Zequinha” e eu falo que quase tive um avô porque ele foi embora, morreu, quando eu era mais ou menos do seu tamanho, Frederico. Daí que a gente não teve muito tempo para brincar, para rir e para aprontar mil aventuras juntos. Mas você sabe como é superdemais ter avô porque você tem dois! Dois!! Garoto sortudo, hein!!! E eles nem são bem velhinhos e ainda podem inventar uma porção de brincadeiras divertidas com você. Então, aproveita!! Aproveita e brinca muito com eles, com os dois avôs. Eles são amigos-do-peito de meninos espertos como você. E vão sempre estar no seu coração, mesmo quando você já não for mais um menino. Em 2005, esc

Frota de submarinos

"O amor real passa por escalas físicas, psicológicas e espirituais para compreensão e integração com o sagrado" Platão. Meu marido me enviou um artigo do New York Times sobre aquele programa do canal Discovery Home&Health chamado John and Kate + 8. Para quem não sabe, é a história real de um casal na batalha diária para criar oito filhinhos que se encontram na primeira infância. Insanidade total. Eu nem gosto de assistir porque fico deprimida só de pensar na trabalheira daquela mãe. Mas, de vez em quando, eu resolvo dar uma espiadinha para recordar que a minha vida não é assim tão complicada. Afinal, só tenho dois guris pequenos. Ufa, poderia ser mais grave. Mas o artigo fala do sucesso estrondoso da série e também de uma possível crise no casamento dos dois. Parece que o marido, enfim, pulou a cerca. Digo enfim porque só consigo enxergar, aqui, aquela velha e boa piada do submarino: “Casamento é igual submarino: pode até flutuar, mas foi feito para afundar”. Since

Comunicar para “cidadanizar”

“A empresa privada pode trocar de produto e de cliente. A pública não pode trocar de cidadão”. Assim o renomado professor e pesquisador francês Pierre Zémor instigou os participantes da palestra “Comunicação Pública – a experiência francesa” a pensar as particularidades de quem trabalha no setor para fornecer informações transparentes e didáticas à sociedade. A palestra aconteceu no auditório da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e contou com a participação de quem milita na área e valeu para conhecermos a evolução da Comunicação Pública na França e debateram semelhanças e diferenças do trabalho existentes entre os dois países. Pierre Zémor, que é pioneiro no estudo do tema e autor de vários livros referência, abriu a palestra enfatizando que Comunicação Pública é compartilhar, trocar informações de interesse coletivo produzidas por organizações investidas de missões que dizem respeito à sociedade. Exatamente por isso, o trabalho dos profissionais de Comunicação que

Neurotic short story

“Hepatite, escarlatina, estupidez, paralisia, toxoplasmose, sarampo, esquizofrenia, úlcera, trombose, coqueluche, hipocondria, sífilis, ciúmes, asma, cleptomania... E o corpo ainda é pouco” (Arnaldo Antunes) Cheguei adiantada para a aula de hidroginástica. Joguei-me numa poltroninha preta e fiquei esquadrinhando o ambiente à espera de entrar na piscina. Ao meu lado, uma senhora muito elegante, bonita, de sobrancelhas perfeitamente desenhadas puxou conversa: "você faz o quê?". Hidroginástica, respondi. "Eu faço yoga". Ah, eu também faço yoga, mas em outro lugar. Yoga é ótimo, né? "Eu não tenho coragem de entrar na piscina cheia de gente, tenho horror", ela confessou. Achei que era o momento de mostrar para ela que a gente pode superar traumas e dei o meu testemunho edificante: Eu também tinha esta prevenção com piscina, por isso resolvi fazer hidroginástica. "O meu médico até me recomendou, mas eu já fui falando para ele “qualquer coisa, menos p

Vamos falar da boa convivência?

Livros de etiqueta quase sempre se tornam bestsellers. Todos querem saber como se vestir para ir a um casamento, como se portar numa entrevista de emprego, como receber convidados em casa, o que falar ou o que não falar no primeiro encontro com o namorado(a). A preocupação com a postura no ambiente de trabalho e nos relacionamentos afetivos está na moda. Até para se corresponder via e-mail já existem regras de boa conduta, a “netqueta”. Sinal positivo de que o ser humano está numa contínua busca por relações mais cordiais e respeitosas com os seus semelhantes. Entretanto, nem sempre o que se lê nos livros acaba sendo aplicado no dia-a-dia. De vez em quando, na correria para chegar e sair de casa ou do trabalho (a vida moderna orientada pela opressão do relógio), nos esquecemos de regrinhas básicas da boa convivência. Na sua vida não deve ser diferente. Todos os dias, transitamos por corredores, subimos e descemos escadas, pegamos elevadores. Existe etiqueta para circular pela cidad

Rota Brasil

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Mar... metade da minha alma é feita de maresia (Sophia de Mello Breyner) As longas viagens de carro são essencialmente filosóficas. Não por acaso Hollywood percebeu que rodar – literalmente – uma história poderia ser uma grande sacada. Os norte-americanos são privilegiados como os brasileiros, ou seja, eles têm todo um quase continente para explorar em duas ou quatro rodas, o que torna o apelo cinematográfico infalível. Já pensou se a gente morasse na Argentina (não, tudo bem, vou pegar um exemplo menos polêmico) no Chile, vai. Que bobinho...No máximo em cinco anos – olha que eu estou fazendo uma conta para quem não tem lá muito espírito de aventura - a pessoa já teria varrido a terra natal de ponta a ponta, conhecendo tudo o que há de belo, excêntrico ou imprescindível. Chapada Diamantina - BA Ainda bem que a gente é brasileiro e precisa gastar umas duas encarnações para dar conta de cruzar o país e ver tantas maravilhas. Eu que viajo desde pequena – minha mãe também tem uma

Minhas férias

Que me perdoe a Conceição de Freitas e todos que amam Brasília ardorosamente, mas o que fazer nestes dias de férias nesta cidade-fantasma sem pensar em algumas formas de suicídio? Eu que sou brasiliense tenho vontade de dar uma de francoatiradora no shopping só para experimentar um pouquinho de emoção. Caramba, mas que lugar tedioso é a capital. E com esta chuva que parece não dar trégua – e eu gosto de chuva – acho que o governo local precisa pensar na criação de campanhas “acredite na vida” como as que eu via lá em Nova Iorque na época desesperadora do inverno. Tenha dó, have mercy my God, mas só em Brasília alguém poderia ter escrito um verso como “Tédio com um T bem grande pra você!” Entendo perfeitamente a melancolia profunda do Renato, o meu ex-vizinho, o Russo. Pois é, hoje moro no bloco em que ele viveu e compôs uma boa parte de suas letras mais raivosas. Estamos encerrados pelas mesmas paredes do “saco cheio” que é Brasília em janeiro. Tá bom, não quero incentivar a mortan